1.
A planta
Pertencente
à família Fabaceae é originária do sudeste asiático e pode ser encontrada em
diversas regiões tropicais ou subtropicais ao redor do globo. É uma planta
trepadeira, popularmente conhecida por Jequiriti, Ervilha-de-pombo, Ervilha do
rosário, dentre outros.
Devido à
fácil dispersão é considerada uma praga. Todas as partes da planta são
consideradas tóxicas, mas são suas sementes que possuem maior toxicidade pela
maior concentração das lectinas tóxicas: abrina e aglutinina.
Figura 1 – Sementes de Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)
Figura 2 – Folhas da planta Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)
Figura 3 – Flores de Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)
Figura 4 – Frutos de Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)
Figura 5 – Detalhe das sementes, com a
extremidade escura característica. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)
1.1.
Princípios ativos
Abrina é
uma glicoproteína semelhante à ricina, toxina presente na “mamona” (Ricinus communis),
porém é considerada ainda mais tóxica (DL50 =
5-10μg/Kg).
As sementes chamativas desta planta fazem com que elas sejam o motivo principal
de intoxicação por via oral. Se a semente é ingerida intacta, sem o rompimento
do invólucro, o risco de intoxicação é baixo, mas se houver a ingestão da
semente com o invólucro rompido ou mesmo ingestão da semente macerada ou
mastigada a abrina pode ser liberada e assim absorvida pelo organismo. Há
controvérsias sobre a absorção desta molécula, uma vez que a mesma é uma
proteína e seria facilmente digerida. Contudo, estudos sugerem de que a abrina
seja estável no trato gastrointestinal, permitindo que mesmo absorvida
pobremente pelo organismo, ocorram efeitos devastadores ao mesmo. A morte pode
ocorrer de 2 a 3 dias após a ingestão da semente, dada sua tamanha toxicidade.
1.2. Mecanismo
de ação
Os efeitos da abrina devem-se à
conformação de sua molécula, composta por duas subunidades, A e B, unidas por
uma ponte dissulfeto. A subunidade B é capaz de ligar-se à uma gama imensa de receptores
celulares, permitindo que a subunidade A adentre na célula e possa ligar-se à
subunidade 60s do rRNA, inativando-a e impedindo assim a síntese proteica,
levando à morte celular. O dano celular causa aumento da permeabilidade com consequente fuga de fluido intracelular e queda dos níveis proteicos, o que acaba
por causar edema tecidual.
A aglutinina por sua vez, apesar de
possuir molécula semelhante à abrina, não é muito eficaz em inibir a síntese proteica. Sua toxicidade deve-se ao poder de aglutinação dos glóbulos
vermelhos.
Após absorção no intestino, a abrina
é em grande parte metabolizada no fígado, sendo encontrada no sangue, pulmões,
baço, rins e coração. Sua eliminação do organismo é basicamente pelos rins. Por
se tratar de uma molécula grande, a abrina pode causar lesões nos néfrons,
conforme ocorre a filtração glomerular.
1.3. Sinais
Clínicos
A intoxicação por abrina pode
ocorrer por ingestão da semente, contato pela pele e mucosas, inalação (semente
pulverizada) e de forma mais incomum, através da via parenteral.
A semente
quando bem mastigada e ingerida, é capaz de provocar muitos efeitos deletérios
ao organismo, a começar pela queimação, êmese, diarreia (sanguinolenta ou não)
e forte gastroenterite hemorrágica. A inalação da abrina, em grande
quantidade, pode causar tosse, náuseas, dispnéia, hipoxemia, edema pulmonar,
diminuição da pressão sanguínea e frenquência respiratória, levando à morte. Em
casos de contato com a pele e mucosas (como olhos) pode haver irritações
locais, vermelhidão, dor na superfície cutânea, dor ocular, conjuntivite
purulenta, alteração da córnea, etc. Sinais mais avançados mostram hemorragias difusas, anemia hemolítica,
oligúria, uremia e falência cardíaca. Os efeitos provenientes de injeções subcutâneas
e intravenosas foram demonstrados somente em cobaias laboratoriais e são
consideradas mais rápidas (agudos) e letais.
Os exames
laboratoriais que se mostram alterados são ALT e AST (acima da referência),
proteína e albumina (abaixo da referência).
1.4. Farmacologia
Com relação as ações farmacológicas
das folhas de Abrus precatorius podemos citar ação broncodilatadora pelo
extrato metanólico presente nas folhas que causa relaxamento muscular com
efeito comparável ao salbutamol; antiespasmódica pelo extrato etanólico presente nas folhas secas; ação hipoglicemiante; anti-bacteriana também pelo
extrato etanólico, onde mostra inibição de crescimento de bactérias como: Staphylococcus
aureus (o mais sensível ao extrato etanólico), Streptococcus pyogenes,
Pseudonomas aeruginosa e Bacillus subtilis; ação anti-inflamatória inibe a
liberação de β-glucoronidase e lisozima de neutrófilos e de
β-glucoronidase e histamina em mastócitos
foram inferiores.
Ações de sementes são antidiabéticas
(o extrato clorofórmico da semente mostrou redução dos níveis de glucose),
efeitos anti-plaquetários, onde as abruquinonas impedem a agregação plaquetária
induzido pelo ácido araquidônico. Também ação anti-cancerígena (extrato proteico obtido da semente mostra efeito citotóxico em células tumorais). A
aglutinina também proveniente da semente, apresenta elevada atividade
anti-tumoral, já a abrina apresentou um grande efeito sobre células tumorais,
diminuindo o tamanho significativamente (principalmente em linfoma ascítico de
Dalton). Efeitos anti-leucemia são vistos pelo efeito da abrina sobre a indução
à apoptose em células leucêmicas, é necessário um tipo especial de abrina e
depende do tipo de linhagem celular (a apoptose, bem como sua dependente do
tempo para penetração nas células, sugerem que a cadeia B provavelmente
desencadeia a apoptose, enquanto a A promove a ruptura a ligação dissulfeto,
que são responsáveis para o progresso da ação). Pode-se citar ainda a ação
anti-alérgica e anti-inflamatória.
1.5.
Tratamento
Não há antídoto conhecido para
intoxicação por Abrus precatorius. A
indicação, quando possível e o paciente permitir, é indução do vômito ou
lavagem gástrica, para eliminação das sementes ingeridas. A utilização de
carvão ativado só é recomendada se a ingestão for recente. A fluidoterapia
também é indicada, de acordo com a gravidade do quadro.
1.6. Espécies Acometidas
Por se tratar de um veneno natural
poderoso, a espécie mais acometida é a humana, seja intencionalmente ou
acidentalmente. As sementes são muito utilizadas para confecção de bijuterias,
o que pode levar à ingestão acidental pelas crianças.
Abrus
precatorius faz parte da família das leguminosas e cresce em áreas
tropicais ou subtropicais, o que muitas vezes a torna uma praga. Animais
ruminantes como bovinos e caprinos podem muitas vezes se tornar alvos de
intoxicação por essa planta, afinal tratam-se de animais que passam o dia
consumindo gramíneas e leguminosas. Embora a ingestão por eles seja mais comum,
a intoxicação por sua vez não é tão comum, pois estes animais são mais
resistentes aos efeitos da abrina, devido à sua fisiologia gastrointestinal.
Animais domésticos como cães e gatos
não aparecem entre as espécies mais acometidas pelas toxinas da planta, somente
alguns estudos indicam os efeitos deletérios da abrina em cães e ratos de
laboratório.
2. Referências
Bibliográficas
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REEDMAN, L.; SHIH, R. D.; HUNG, O. Survival after an Intentional
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Farmácia, Universidade do Porto, Portugal, 2014. Disponível em: <http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius>.
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TAYLOR, L.; COUNTY, M. Tropical Plant Database – Jequerity (Abrus precatorius).
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Acesso em: 03 de Março de 2015.
gostaria de uma muda e ou sementes, isso é possivel?
ResponderExcluirfone 34996833744