sexta-feira, 13 de março de 2015

Grupo 3 - Abrus precatorius L. (Jequiriti)

1. A planta
            Pertencente à família Fabaceae é originária do sudeste asiático e pode ser encontrada em diversas regiões tropicais ou subtropicais ao redor do globo. É uma planta trepadeira, popularmente conhecida por Jequiriti, Ervilha-de-pombo, Ervilha do rosário, dentre outros.
            Devido à fácil dispersão é considerada uma praga. Todas as partes da planta são consideradas tóxicas, mas são suas sementes que possuem maior toxicidade pela maior concentração das lectinas tóxicas: abrina e aglutinina.

Figura 1 – Sementes de Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)

Figura 2 – Folhas da planta Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)

Figura 3 – Flores de Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)

Figura 4 – Frutos de Abrus precatorius. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)

Figura 5 – Detalhe das sementes, com a extremidade escura característica. (Fonte: http://abrusprecatoriusl.wix.com/abrus-precatorius#!a-planta/c14e3)

1.1. Princípios ativos
            Abrina é uma glicoproteína semelhante à ricina, toxina presente na “mamona” (Ricinus communis), porém é considerada ainda mais tóxica (DL50 = 5-10μg/Kg). As sementes chamativas desta planta fazem com que elas sejam o motivo principal de intoxicação por via oral. Se a semente é ingerida intacta, sem o rompimento do invólucro, o risco de intoxicação é baixo, mas se houver a ingestão da semente com o invólucro rompido ou mesmo ingestão da semente macerada ou mastigada a abrina pode ser liberada e assim absorvida pelo organismo. Há controvérsias sobre a absorção desta molécula, uma vez que a mesma é uma proteína e seria facilmente digerida. Contudo, estudos sugerem de que a abrina seja estável no trato gastrointestinal, permitindo que mesmo absorvida pobremente pelo organismo, ocorram efeitos devastadores ao mesmo. A morte pode ocorrer de 2 a 3 dias após a ingestão da semente, dada sua tamanha toxicidade.
1.2. Mecanismo de ação
            Os efeitos da abrina devem-se à conformação de sua molécula, composta por duas subunidades, A e B, unidas por uma ponte dissulfeto. A subunidade B é capaz de ligar-se à uma gama imensa de receptores celulares, permitindo que a subunidade A adentre na célula e possa ligar-se à subunidade 60s do rRNA, inativando-a e impedindo assim a síntese proteica, levando à morte celular. O dano celular causa aumento da permeabilidade com consequente fuga de fluido intracelular e queda dos níveis proteicos, o que acaba por causar edema tecidual.
            A aglutinina por sua vez, apesar de possuir molécula semelhante à abrina, não é muito eficaz em inibir a síntese proteica. Sua toxicidade deve-se ao poder de aglutinação dos glóbulos vermelhos.
            Após absorção no intestino, a abrina é em grande parte metabolizada no fígado, sendo encontrada no sangue, pulmões, baço, rins e coração. Sua eliminação do organismo é basicamente pelos rins. Por se tratar de uma molécula grande, a abrina pode causar lesões nos néfrons, conforme ocorre a filtração glomerular.
1.3. Sinais Clínicos
            A intoxicação por abrina pode ocorrer por ingestão da semente, contato pela pele e mucosas, inalação (semente pulverizada) e de forma mais incomum, através da via parenteral.
            A semente quando bem mastigada e ingerida, é capaz de provocar muitos efeitos deletérios ao organismo, a começar pela queimação, êmese, diarreia (sanguinolenta ou não) e forte gastroenterite hemorrágica. A inalação da abrina, em grande quantidade, pode causar tosse, náuseas, dispnéia, hipoxemia, edema pulmonar, diminuição da pressão sanguínea e frenquência respiratória, levando à morte. Em casos de contato com a pele e mucosas (como olhos) pode haver irritações locais, vermelhidão, dor na superfície cutânea, dor ocular, conjuntivite purulenta, alteração da córnea, etc. Sinais mais avançados mostram hemorragias difusas, anemia hemolítica, oligúria, uremia e falência cardíaca. Os efeitos provenientes de injeções subcutâneas e intravenosas foram demonstrados somente em cobaias laboratoriais e são consideradas mais rápidas (agudos) e letais.
            Os exames laboratoriais que se mostram alterados são ALT e AST (acima da referência), proteína e albumina (abaixo da referência).
1.4. Farmacologia
Com relação as ações farmacológicas das folhas de Abrus precatorius podemos citar ação broncodilatadora pelo extrato metanólico presente nas folhas que causa relaxamento muscular com efeito comparável ao salbutamol; antiespasmódica pelo extrato etanólico presente nas folhas secas; ação hipoglicemiante; anti-bacteriana também pelo extrato etanólico, onde mostra inibição de crescimento de bactérias como: Staphylococcus aureus (o mais sensível ao extrato etanólico), Streptococcus pyogenes, Pseudonomas aeruginosa e Bacillus subtilis; ação anti-inflamatória inibe a liberação de β-glucoronidase e lisozima de neutrófilos e de β-glucoronidase e histamina em mastócitos foram inferiores.
Ações de sementes são antidiabéticas (o extrato clorofórmico da semente mostrou redução dos níveis de glucose), efeitos anti-plaquetários, onde as abruquinonas impedem a agregação plaquetária induzido pelo ácido araquidônico. Também ação anti-cancerígena (extrato proteico obtido da semente mostra efeito citotóxico em células tumorais). A aglutinina também proveniente da semente, apresenta elevada atividade anti-tumoral, já a abrina apresentou um grande efeito sobre células tumorais, diminuindo o tamanho significativamente (principalmente em linfoma ascítico de Dalton). Efeitos anti-leucemia são vistos pelo efeito da abrina sobre a indução à apoptose em células leucêmicas, é necessário um tipo especial de abrina e depende do tipo de linhagem celular (a apoptose, bem como sua dependente do tempo para penetração nas células, sugerem que a cadeia B provavelmente desencadeia a apoptose, enquanto a A promove a ruptura a ligação dissulfeto, que são responsáveis para o progresso da ação). Pode-se citar ainda a ação anti-alérgica e anti-inflamatória.
1.5. Tratamento
            Não há antídoto conhecido para intoxicação por Abrus precatorius. A indicação, quando possível e o paciente permitir, é indução do vômito ou lavagem gástrica, para eliminação das sementes ingeridas. A utilização de carvão ativado só é recomendada se a ingestão for recente. A fluidoterapia também é indicada, de acordo com a gravidade do quadro.
1.6. Espécies Acometidas
            Por se tratar de um veneno natural poderoso, a espécie mais acometida é a humana, seja intencionalmente ou acidentalmente. As sementes são muito utilizadas para confecção de bijuterias, o que pode levar à ingestão acidental pelas crianças.
            Abrus precatorius faz parte da família das leguminosas e cresce em áreas tropicais ou subtropicais, o que muitas vezes a torna uma praga. Animais ruminantes como bovinos e caprinos podem muitas vezes se tornar alvos de intoxicação por essa planta, afinal tratam-se de animais que passam o dia consumindo gramíneas e leguminosas. Embora a ingestão por eles seja mais comum, a intoxicação por sua vez não é tão comum, pois estes animais são mais resistentes aos efeitos da abrina, devido à sua fisiologia gastrointestinal.
            Animais domésticos como cães e gatos não aparecem entre as espécies mais acometidas pelas toxinas da planta, somente alguns estudos indicam os efeitos deletérios da abrina em cães e ratos de laboratório.
2. Referências Bibliográficas
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FERNANDO, R. Abrus precatorius L. National Poisons Information Centre, Colombo, 1988. Disponível em: <http://www.inchem.org/documents/pims/plant/abruspre.htm#SubSectionTitle:10.2.2%20Biomedical%20analysis>. Acesso em: 03 de Março de 2015.
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REEDMAN, L.; SHIH, R. D.; HUNG, O. Survival after an Intentional Ingestion of Crushed Abrus Seeds. Western Journal of Emergency Medicine, v. 9, n. 3, p. 157-159, Março de 2008.
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TAYLOR, L.; COUNTY, M. Tropical Plant Database – Jequerity (Abrus precatorius). Raintree, 2013. Disponível em: <http://www.rain-tree.com/abrus.htm#.VQHPW0LLfU5>. Acesso em: 03 de Março de 2015.


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